sexta-feira, 14 de outubro de 2011



- Naquela noite chuvosa – eu sei – ela suplicava viver uma paixão. É certo que eu estava do outro lado da calçada, mas, seus movimentos demostravam isso. Tenho certeza.
- Naquela noite chuvosa, não havia nada que eu quisesse mais do que um maldito taxi! Já era tarde e um maluco me olhava do outro lado da rua.
- Ela segurava um guarda-chuva preto (ou seria, azul escuro?) em uma de suas mãos. Na outra, ativava musicas no celular para ouvir e passar o tempo.
- Como se não bastasse o meu guarda-chuva pequeno, a droga do celular estava sem sinal! Nem para a minha amiga eu podia ligar.
- Seu sobretudo era bege e amarrava na cintura. Ela caminhava de um lado para outro, com um salto preto, em movimentos invejáveis. Estava divinamente bela!
- Era o que me faltava! Meus pés resolveram doer nessa altura do campeonato! Sabe o que é andar de um lado pro outro com um sapato hiper-mega desconfortável? – Não, não sabe.
- Eu sei. Ela suplicava por uma paixão.
- Arrê! Cadê o carro que não passa?!
- Comecei a imaginar como seria a minha vida com ela. Os nossos salários seriam o suficiente para viajarmos nas férias. Imagina acordar e vê-la ao meu lado, embrulhada em lençóis brancos de seda.
- A chuva aumentou. Meu Deus! O que fiz pra merecer isso?! O cara continua me olhando.
- Despertaria com prazer todas as manhãs se ela fosse minha.
- DEUS! Por favor... Um carro, ônibus, taxi, moto, bicicleta, carroça de burro, qualquer coisa! Quero a minha casa!
- Poderíamos ter um casal de filhos. A menina seria psicóloga e o menino poderia fazer engenharia civil! A família que sempre quis...
- Olha a hora! Não passa ninguém... E meu celular continua sem sinal.
- Não foi isso que o meu pai me ensinou! Vou atravessar a rua e falar com ela.
- Graças a Deus! “Taxi, Taxi”!
- Nossa! Quanta falta de sorte. Logo agora que iriamos ter uma conversa maravilhosa...
- Vamos, moço. Puxa esse carro!
- Droga... Motorista sem educação. Além de levar a minha mulher, ainda me molha por inteiro!
- Credo... Cara mais estranho... Estava começando a ter medo. Enfim, siga reto e vire à esquerda...
[...] Eu, que estava em uma lanchonete, da janela, presenciava desde o inicio toda a cena - pedi que a garçonete esperasse. Fui até a rua. Chamei o ‘moço molhado’, nos olhamos respectivamente, nos beijamos e tomamos um café.



14/10/2011
Tarcila Santana


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